terça-feira, 27 de julho de 2010

Toilette da cachorrinha

tempos em tempos me pegam
me trucidam numa máquina de lavar
tosam meu pelo
e põem perfume de rapariga em mim
pagam a taxa
- volto pra casa tremendo .

quarta-feira, 21 de julho de 2010

quinta-feira, 8 de julho de 2010

POEMA DE LEMBRAR

No petisqueiro,
Belinha guardava douradas bananas,
Rapadura dura e batida,
Mel de uruçu, de engenho
E farinha.

Do corredor miúdo, sentia-se
O aroma exalado pelo móvel
Mais cobiçado da casa.

À tarde, os tesouros, trancados à chave,
Eram retirados, em liturgia, e distribuídos
Em fartas porções.

Amava o cheiro das bananas
Amassadas e cobertas com açúcar cristal.

Já no fogão - para o jantar -
Arroz de leite, jerimum caboclo,
Bife de carne verde.
De sobremesa -
O beijo da minha avó.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

MASCAVO II

Meu senhor dos canaviais!
Em vossa boca ardente
Quero provar da cachaça...

E nas vagas desse verde mar
Afogar os meus desejos mais
Antigos,

E depois velejar no frescor
Da vossa tez morena...

E, por fim, esquecer-me
No negrume do vosso olhar!

terça-feira, 29 de junho de 2010

DE CAVALARIA

Me chegou um cavaleiro
De tristíssima figura ...
Cavalgava, cavalgava, cavalgava...
Tormento, amargo tormento.

Praticava um suicídio estético...
Esquizofrenia? Esquisitisse? Misantropia?
Delirava... delirava... delirava.
Melancolia, doce melancolia.

Me chegou um nobre
Em vestes rotas: sarna, escarlatina, tétano...
Olhos esbugalhados, quase uma múmia...
Feiúra, dilacerante feiúra...

Um tristíssimo cavaleiro
De amarga figura montado em jegue tropo –
Um leão combalido, destroçado,
Degladeando-se com ventos, espíritos, bruxas...
Espanto, azedo espanto.


Um fidalgo ao avesso
Usou adaga, espada, escudo
Era só uma armadura.
Feriu-me o peito sem adorar minha formosura...
Nenhum feito heróico...
Um patife travestido de doce figura.
Romance, hediondo romance.